quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Os meus poetas



Trabalho na água que a voz movimentou

Gerando os sismos: e sou
O húmus, o barro nas margens
O homem que nunca compreendeu

Daniel Faria in Poesia, Assírio e Alvim 2012







divido-me entre o grito incompleto da matéria

e o murmúrio do corpo, agora extinto

estou entre o fogo inominável e o desejo,

estou entre a criação e o anjo vigilante

na ombreira da porta , no seu olhar definitivo de barqueiro

do vasto rio do esquecimento



poderia dizer estou aqui

toquem-me as mãos do real, prendam-me os dedos dos ramos que crescem das suas raízes por dentro de mim

poderia dizer vou desesperadamente

como o vento tardio ou a queda do animal ferido na sua viagem inútil

poderia inventar a luz do rosto perfeito

do seu compasso, do seu verso , da sua grandiosa madrugada,

do seu poder,

poderia clamar ressuscitei dos meus próprios mortos

poderia negar tudo , todas as minhas compaixões, todos os meus medos

poderia ser outro



mas a substância das coisas está em mim

tudo se consuma no meu sangue



Pedro Saborino